segunda-feira, 12 de abril de 2010

Há muitos anos atrás...

            Quando vivemos "há muitos anos atrás" nunca paramos para imaginar que um dia  aquele momento que vivemos seria chamado de "há muitos anos atrás"...
                                                        (Aretha G. Piedade)
Da esquerda para a direita: Meu pai está em dúvida se o primeiro é o Gerhardt ou o Zebo, depois vem a Telma, Cristina e Walter
Fachada da "Casa Portuguesa de Jaguariaíva"
Há muitos anos atrás... mais ou menos há uns 40 anos atrás

domingo, 11 de abril de 2010

Memórias de Jaguariaiva 2010

                                                          Fotografia: Aretha Gasparini Piedade



            Não morei em Jaguariaíva, mas lá meus pais, tios e avós viveram por um tempo quando meu avô Antônio Piedade trabalhava como encarregado nas indústrias Matarazzo.

Minha família voltou para SP, mas carregaram sempre consigo a memória da vida em Jaguariaíva.

Foi quando meu pai resolveu desenterrar a cidadezinha de suas lembranças e simplesmente pegou um ônibus para ingressar no túnel do tempo retornando a Jaguariaíva 40 anos depois que deixou a cidade.

Tempos mais tarde eu, com a curiosidade a flor da pele, não pude resistir após ouvir por toda minha vida tantos "causos jaguariaivenses", eu precisava conhecer a cidade, e assim o fiz.

Pela obra do destino um cert o dia meu pai reencontrou, através do Orkut, seu amigo de infância dos tempos de Jaguariaíva chamado George Abraão, que em 2008 estava prestes a lançar um livro de causos jaguariaivenses, e nos convidou para o lançamento do livro na cidadezinha.

Não tivemos dúvida, eu, meu pai, meu tio Carlos e meu primo Eduardo fomos em uma das raras viagens em família em direção ao passado dos meus antepassados.

Embarcados em uma aventura familiar ao colocarmos nossos pés em solo jaguariaivense fomos muito bem acolhidos pela cidade, o George e sua família. Eu de família pequena, nunca havia visto antes um almoço em uma família tão grande assim, com uma mesa imensa, comidas diferentes feitas com muito amor e carinho. Pela primeira vez eu experimentei kibe crú, adorei, e nunca mais encontrei um kibe crú tão saboroso como aquele, as mulheres daquela família tinham mãos de fada. Saí encantada com a emoção de ver uma reunião dessas em família.

Ao anoitecer fomos à cerimônia de lançamento do livro de George. O que muito me marcou neste acontecimento foi quando meu pai reencontrou o professor de educação física que dava aulas para ele durante sua adolescência, e teve o prazer em dizer ao professor que mesmo trabalhando em outra área havia cursado a faculdade de ed. física por causa dele. Sou professora também, e pude imaginar a sensação do professor em idade avançada mas força de um garoto ao ouvir as palavras de meu pai.

Fomos embora da cidade no dia seguinte encantados com tudo aquilo, eu me sentia um pedaço jaguariaivense. Antes de saírmos, durante o café da manhã no hotel, brincamos com o George dizendo que èle precisaria lançar mais um livro para retornarmos. Bom ele atendeu aos pedidos, escreveu mais contos e um deles em homenagem à minha família, entitulado como "A casa Portuguesa".

Desde que saímos eu aguardava ansiosamente pelo lançamento de mais um livro para retornar àquele lugar.

Finalmente chegou o momento esperado, porém dessa vez conseguimos ir eu, meu pai e minha tia Telma , deixamos marido, esposa, filhos,irmãos, cachorros para trás e fomos, levando todos que ficaram em SP no coração. Foi a vez da minha tia se emocionar ao rever a cidade, e meu pai pela terceira vez ver e reviver as emoções como se fosse o primeiro momento.

O tempo passa, a cidade muda, às vezes nos entristecemos por ver memórias concretas deteriorando-se devido à má conservação, mas as memórias do coração são mais fortes. Não vivi, mas sinto em meu coração a emoção dos que viveram e imagino que meu pai foi adolescente, minha tia criança que aprendeu a escrever com meu pai para entrar na escola, meu tio tocando em banda ( Os Mugs), eles crianças assustando os vizinhos com a cabeça coberta de pano preto e brasa de fósforo na boca, escoteiros, o George vivendo tudo isso com eles.

Eu onde entro nisso? Sabe quando pensamos... eu queria ser uma mosquinha para ver tudo isso? Bom eu sou essa mosquinha e tive o prazer de ouvir essas histórias de perto, imaginar e me emocionar com tudo isso, e principalmente lembrar o que sempre nos esquecemos, que meus pais e tios foram crianças, foram adolescentes e viveram tudo intensamente como eu também fui um dia. Cada um ao seu tempo e lugar, mas todos carregamos memórias. Em nossa vida planejamos o futuro e nos emocionamos com as memórias, mesmo que sejam memórias alheias como essas.









Um abraço enorme ao George que proporcionou mais um encontro para minha família e o prazer de me emocionar com vossas memórias.

E repito, em 2011 quero estar com toda minha família reunida em Jaguariaíva e reencontrar novamente o George e sua maravilhosa família.





Que Deus abençoe à todos e à essa cidade cheia de memórias